PUBLICIDADE

Polícia investiga se metanol pode ter sido a causa da morte de rapaz em MS

Jovem de 21 anos ingeriu cachaça na quarta-feira e passou o dia seguinte com dores graves e vômitos escuros, até sua morte

| CORREIO DO ESTADO / FELIPE MACHADO


Mãe de Matheus, Maria José Duarte Santana, segura a identidade do filho, que morreu na noite de quinta-feira após passar mal - Paulo Ribas

Após a explosão de notificações de casos suspeitos de intoxicação por metanol em bebidas alcoólicas, Mato Grosso do Sul também está em alerta sobre as bebidas destiladas falsificadas após Matheus Santana Falcão, de 21 anos, morrer sob suspeita de ter ingerido uma cachaça adulterada comprada em conveniência do bairro onde morava, em Campo Grande.

Segundo consta no boletim de ocorrência da Polícia Civil, a bebida foi comprada na quarta-feira, na conveniência NaschBeer, pelo irmão da vítima, Thiago Santana Falcão, após uma tentativa frustrada de comprar no Supermercado da região, visto que o estabelecimento estava fechado. No caso, foi comprada uma cachaça, conhecida como Camelinho.

No dia seguinte, por volta das 15h, Matheus se queixou de dores e apresentou sintomas graves, como mal-estar gástrico, náuseas e vômito escurecido. É neste momento que, de acordo com a família, foi crucial para o que viria a acontecer cerca de cinco horas depois: a demora no atendimento do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

“Quando chamamos o Samu, eram 16h. Chamamos quatro vezes e ele não veio. Quando foi 18h que eles chegaram para levar ele para lá”, explica Antônia Duarte, de 59 anos, tia da vítima.

Às 18h20min, Matheus chegou à Unidade de Pronto-atendimento (UPA) do Bairro Universitário e, mesmo com fortes dores, respondeu aos principais estímulos e conseguiu caminhar até a triagem, falava e estava consciente de suas ações.

Na triagem, ele relatou ter consumido bebida alcoólica no fim de semana também –whisky no sábado e cachaça no domingo. Ademais, disse que fazia uso de bebida alcoólica para dormir desde seus 19 anos.

Após seus sinais vitais serem checados, sua situação foi classificada com a cor amarela (gravidade moderada). Porém, tudo mudou em cerca de 15 minutos. Às 18h45min, Matheus apresentou um quadro de crise convulsiva, o que o fez ser transferido para a área vermelha da unidade de saúde, já inconsciente.

O jovem apresentou quadro de parada cardiorrespiratória e, por isso, foi colocado em intubação orotraqueal (procedimento médico de emergência que insere um tubo pela boca, assegurando a oxigenação, a ventilação e a proteção das vias aéreas).

Após isso, o rapaz teve algumas paradas cardiorespiratória, até sua morte ser constatada, às 19h53min.

Depois do óbito, o corpo de Matheus foi recolhido para exames necroscópicos. De acordo com a família, até a tarde de sexta-feira não houve um retorno da Polícia Civil ou Instituto Médico Legal (IML) para a liberação para velório e sepultamento.

Para análise toxicológica, amostras de sangue e urina da vítima foram encaminhadas ao Laboratório Central do Município de Campo Grande.

Obviamente, a bebida ingerida pela vítima também foi confiscada para análises complementares, já que suspeita-se de intoxicação por metanol, que, conforme previsão do governo do Estado, deve demorar até 30 dias para ficar pronto.

“Não nos ligaram e nem falaram nada, apenas disseram que estavam fazendo exame por causa desse negócio do álcool [metanol]. Nem dão satisfação, porque a pessoa que é pobre, você sabe o jeito que é, né?”, lamenta a tia de Matheus.

OUTRO LADO

A bebida que supostamente teria causado a morte do jovem foi comprada na conveniência NaschBeer, que fica localizada no Jardim Nashiville. Maria Silva, dona do estabelecimento, confirmou que a bebida foi adquirida no local, mas acredita que não há metanol na referida cachaça.

“Eu não acredito que seja metanol, porque esse Camelinho já está no mercado há muitíssimo tempo. Então assim, apresentou agora, pode ser que ele ingeriu outro tipo de bebida, pode ser que ingeriu bebida com algum outro tipo de substância”, afirma.

Após o caso se tornar público, a Secretaria-Executiva de Orientação e Defesa do Consumidor (Procon-MS) foi ao local para confiscar o lote da bebida a qual pertencia aquela ingerida por Matheus.

Sobre isso, Maria explicou que a cachaça foi fornecida por uma grande distribuidora de bebidas, parceira da conveniência há 11 anos. Além da Camelinho, uma marca de vodka do mesmo fabricante também foi confiscada, por ter chegado no mesmo carregamento que a cachaça.

“Prefiro aguardar, mas me resguardo porque tenho nota fiscal de compra. Em questão da família, é uma perda grande e eu como comerciante também fico no prejuízo, porque é o nome da minha empresa que está em jogo”, finaliza a proprietária.

A reportagem tentou entrar em contato com a distribuidora, mas não houve retorno até o fechamento desta edição.

PREFEITURA

Em resposta ao Correio do Estado, a Prefeitura de Campo Grande se solidarizou com a morte do jovem, mas afirmou que Matheus teve um atendimento rápido e adequado, contrariando a versão da família, que defende que houve negligência do Samu.

“O jovem recebeu atendimento imediato e adequado desde o acionamento do Samu 192, que realizou o transporte com estabilidade até a UPA, onde foi classificado como amarelo conforme o protocolo de risco. O paciente estava consciente e orientado, sendo acompanhado de perto pela equipe na unidade e, diante da piora súbita do quadro, recebeu todas as manobras de emergência previstas em protocolo”, disse o Executivo Municipal em nota.

Além disso, a prefeitura afirmou que emitiu, por meio da Coordenadoria de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS-CG), um Alerta Epidemiológico sobre os casos de intoxicação por metanol relacionados ao consumo de bebidas alcoólicas no País, “diante da preocupação crescente e da notificação de situações semelhantes em outros estados”.

APURAÇÃO

Segundo apurou o Correio do Estado, a Polícia Civil esteve presente em locais que podem ter bebidas adulteradas ou de pessoas que fazem essa prática ilegal. Mesmo diante da forte suspeita, a fonte afirmou que não é possível confirmar ainda a intoxicação por metanol em Matheus, visto que uma decisão precoce pode gerar grandes prejuízos ao comércio campo-grandense.

“Não é momento da gente falar sobre eventual intoxicação por metanol. Nós não sabemos do que esse rapaz morreu. É prudente aguardar o laudo, até para não causar um alarde desnecessário. Então, a gente pode causar um prejuízo ao comércio, à imagem das empresas, propagando algo que nós não sabemos ainda. Nós estamos com cautela”, explicou uma fonte.


PUBLICIDADE
PUBLICIDADE