Mentiram para você? Por que o seu carro nunca vale o preço da Fipe
| PAULA GAMACOLUNISTA DO UOL
Você decidiu vender seu carro e, claro, já consultou aquele valor mágico: o da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas). Mas, ao chegar em uma loja ou negociar com um comprador, a surpresa: "mas como assim estão me oferecendo 20% a menos?" Calma, respira. Não precisa se sentir lesado. A verdade é que a tabela nunca disse exatamente quanto vale o seu carro - e está tudo bem com isso.
A tabela Fipe é uma média nacional de preços coletados de anúncios. Isso mesmo: anúncios, não vendas reais. Ela serve como um ponto de partida, uma referência usada em seguros, financiamentos e negociações. Mas ela não considera o estado real do seu carro, se ele já bateu, se tem revisão atras.
De onde vem esse número?
A tabela Fipe expressa valores médios de veículos anunciados pelos vendedores, no mercado nacional, servindo apenas como um parâmetro para negociações ou avaliações. "Os preços efetivamente praticados variam em função da região, conservação, cor, acessórios ou qualquer outro fator que possa influenciar as condições de oferta e procura por um veículo específico", alerta a entidade.
Na prática, a Fipe capta preços anunciados na internet - em sites como OLX e Webmotors - e descarta valores muito fora da curva (muito altos ou baixos). Depois, calcula uma média. Mas veja só: essa média ainda pode estar defasada, já que a atualização é mensal e o mercado muda muito rápido.
Para melhorar a precisão, a tabela desconsidera carros de venda especial (como blindados ou transformados), veículos de importação independente, carros de teste, de frotas ou de uso do governo. Mas ainda sim não chega no preço exato de transação.
Um dos maiores equívocos é achar que o preço anunciado é o mesmo do carro vendido. Como lembra Enilson: "O valor anunciado é o que o vendedor espera conseguir. Mas o valor transacional - o que realmente é pago - costuma ser bem diferente."
Por isso, atualmente, existem outras tabelas, menos famosas para o consumidor, só que mais precisas para o mercado profissional. Entre elas, estão: Molicar - muito usada pelos bancos para financiamentos; KBB (Kelley Blue Book), especializada em preços transacionais; AutoAvaliar/FGV, usada em redes de revenda, e Bright - outra referência do setor automotivo.
Essas tabelas captam valores reais de vendas feitas em lojas, concessionárias e plataformas de leilão ou remarketing. Ou seja: preço de verdade, não desejo. Ainda assim, Enilson explica que elas apenas balizam o mercado, pois o preço real quem dita é o estado do carro.
Seu carro vale quanto o mercado quer pagar
Pode ser duro de aceitar, mas é real: o valor do seu carro não está na tabela, está no mercado. Isso significa que o mesmo carro pode valer mais ou menos dependendo da região, da procura local e da aceitação da marca. Um Gol pode ter ótima saída em São Paulo, mas ficar encalhado em Uberaba, por exemplo.
A rede de concessionárias da sua cidade, o tipo de manutenção disponível, e até o gosto regional influenciam diretamente. "Já ajudamos lojistas a escolherem que modelos levar de Belo Horizonte para abrir lojas em Uberlândia ou Juiz de Fora. E eram carros completamente diferentes, porque o gosto do público muda de cidade para cidade", conta Enilson.
Por que, então, todo mundo ainda fala em Fipe?
Porque a Fipe pegou. É conhecida, é "oficial", e por muito tempo foi a única referência no Brasil. As concessionárias ainda a usam na conversa com o cliente, como uma forma de comunicação familiar. Mas no backstage, para decidir quanto realmente pagar, outras ferramentas entram em ação.