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Bolsonaro se opôs à permanência de Eduardo nos EUA e tentou convencê-lo a voltar

Deputado disse que não teria como atender a apelos; aliados veem retorno como incerto

| FOLHA/MARIANNA HOLANDA


O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) participa de inauguração de exposição alusiva ao Holocausto judeu, no Congresso - Pedro Ladeira - 18.mar.25/Folhapress

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se opôs à permanência do filho Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos Estados Unidos. Segundo relatos de aliados, ele foi avisado no final de semana e tentou convencê-lo a voltar para o Brasil.

Eduardo comunicou oficialmente a Câmara dos Deputados da sua licença na quinta-feira (20), mas publicou vídeo nas suas redes sociais na última terça (18). Ele decidiu continuar no país e se afastar do cargo por 120 dias, alegando temer a apreensão do seu passaporte e uma eventual prisão.

O deputado federal comunicou seu pai da decisão no último sábado (15), um dia antes da manifestação realizada no Rio de Janeiro pela anistia de presos condenados por ataques golpistas de 8 de janeiro. De acordo com relatos, o ex-presidente se emocionou ao falar com o filho e tentou dissuadi-lo de continuar no país governado por Donald Trump.

Não apenas o pai, aliados também diziam que o deputado passaria a imagem de que estaria fugindo num momento de importante embate da oposição. Além disso, outro argumento era de que isso poderia prejudicar a sua eleição ao Senado, em 2026, por São Paulo —algo já considerado como certo por bolsonaristas.

Apesar disso, Eduardo disse que não teria como atender aos apelos e que seria melhor para todos se ele ficasse nos Estados Unidos.

Para a sua decisão, pesaram três pontos: primeiro, a família, ele não queria se afastar dos filhos e da esposa; segundo, temia decisões duras do STF contra ele, caso consiga articular retaliações do governo americano à corte; e, por fim, acredita que sua atuação por essas eventuais sanções de Trump serão mais efetivas se ele estiver por lá.

Em entrevista à Folha na terça, Eduardo disse que conversou com o pai e a esposa, Heloísa, e que seus argumentos foram acatados.

'Primeiro, ele [Jair] me respeita. Eu sempre vou ser filho dele, mas eu já tenho 40 anos, tenho família, duas crianças em casa. E falei pra ele, ‘olha, existe ou não existe a possibilidade de pegar um passaporte? Existe’. Ainda que você possa considerar pequena, alta ou baixa, existe', disse.

Depois, em entrevista a um canal de YouTube, o deputado se emocionou ao falar do pai. 'Muita coisa que pesa quando a gente toma essa decisão. Conversar com ele [Jair] não foi fácil, ele queria que eu tivesse por perto. Mas, conforme fui conversando com ele, foi entendendo meus argumentos e aceitou a decisão', afirmou.

No mesmo dia em que comunicou sua permanência nos Estados Unidos, a PGR (Procuradoria-Geral da República) deu parecer contrário à apreensão do passaporte e Moraes arquivou o pedido. Ainda assim, aliados dizem não saber quando ele voltará.

Há quem dê como certo o seu retorno após os quatro meses de licença. Outros dizem que é provável que ele abra mão do mandato. À Folha ele disse que avalia entrar com pedido de asilo nos Estados Unidos.

A reação do STF, contudo, foi vista por aliados do deputado como um referendo ao seu argumento crítico ao Judiciário. Segundo eles, a rapidez com que as decisões foram tomadas, após o vídeo dele, comprovariam que há politização do Poder e que, portanto, sua decisão de ficar nos Estados Unidos estaria acertada.

A definição foi mantida sob sigilo, mesmo de aliados muito próximos, mas algumas pessoas participaram de conversas com o deputado, tentando convencê-lo a mudar de ideia. Ou, ao menos, a voltar para assumir a presidência da Creden (Comissão de Relações Exteriores da Câmara). O líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), confirmou à Folha que foi um desses.

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O anúncio de Eduardo foi feito no mesmo dia em que os líderes da Casa se reuniam na residência oficial da Câmara dos Deputados com o presidente Hugo Motta (Republicanos-PB), para bater o martelo sobre o comando das comissões.

Desde o princípio, a Creden, uma comissão que não costuma gerar muito embate, era a primeira escolha do PL, que tem a maior bancada com 92 deputados. O PT tentou articular contra essa possibilidade e ministros do Supremo também pressionaram, chegando até a ligar para Motta.

Mas o PL insistiu e mesmo a base do governo Lula já se dava como vencida. Todos foram, então, surpreendidos com a mudança de planos de Eduardo. No xadrez das comissões, a Creden ficou sob o comando de Filipe Barros (PL-PR).

Nesta sexta-feira (21), a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), chamou Eduardo Bolsonaro de 'medroso' pela ida aos Estados Unidos e criticou o que chamou de vitimismo da parte do deputado.

'O Eduardo Bolsonaro presta um desserviço ao país, mentindo Brasil afora, dizendo que aqui é uma ditadura e que ele teve que sair. Ou seja, ele tentou criar uma situação para se vitimizar e dizer que ele estava sendo perseguido', afirmou a ministra à CNN.

'Quem defende a ditadura são eles, os Bolsonaros. O problema é que ele não enfrenta o debate político, é medroso. Ele tinha que enfrentar aqui, por que que ele foi articular com o Congresso americano?', questionou.

A ministra também afirmou que, caso o filho de Bolsonaro mantenha a decisão, é possível que o pedido feito pelo PSOL que solicita que a saída de Eduardo configure abandono de mandato, seja aceito.


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