Nos EUA, campo-grandense viraliza com vídeos sobre deportação em massa
Em Estado considerado 'berço de imigrantes', com políticas favoráveis, Bruno e sua família passaram a evitar locais mais radicias como a região vizinha de New Hampshire, longe cerca de só 122 km de onde moram
| CORREIO DO ESTADO / LEO RIBEIRO
'Vamos ficar quietinhos aqui na nossa cidade', é o que diz o campo-grandense Bruno (em vídeo publicado no último dia 22), que trabalha com entrega de aplicativos e alega que esses apps estão até mesmo pagando bônus, devido ao risco para moradores imigrantes, em lugares mais radicais dos Estados Unidos que apoiam a política de deportação de Donald Trump.
Em solo norte-americano há cerca de dois anos e meio, o dono campo-grandense do canal 'Meu Casal Preferido' vive - e produz conteúdo - aliado com a família nos Estados Unidos.
Acontece que, passando a publicar vídeos há pelo menos 11 meses, viu a média de visualizações (que antes girava entre cerca de 100 a 500 há duas semanas) saltar para verdadeiros 'virais', que atingiram mais de 300 mil exibições em um único vídeo.
Esse vídeo em específico recebeu o título: 'Deportação em Massachusetts (Começou a caçada aos imigrantes)', o primeiro de uma série que vem relatando a visão in loco da já considerada 'maior política de deportação em massa aprovada' na história do País norte-americano.
O campo-grandense Bruno Andrade, nascido em 08 de agosto de 1988 na Santa Casa, saiu da Capital para morar na cidade mato-grossense de Cáceres, de onde se mudou posteriormente para Rondônia antes de deixar de fato o Brasil.
“Decidi sair do País em busca de um futuro melhor, minhas tentativas de me estabelecer financeiramente no Brasil acabaram durante a pandemia, fiz uma travessia com minha esposa pelo México e pedi asilo nos Estados Unidos”, disse ele em entrevista ao Correio do Estado.
Vida nos EUA
Sobre o começo dessa jornada, ele lembra que chegou a ficar preso por 10 dias, solto somente sob pagamento de fiança.
“Busquei um advogado de imigração e dei entrada no meu processo, no segundo ano tive um filho aqui com minha esposa que hoje tem um ano e 4 meses, durante todo esse tempo aqui sempre superando os obstáculos e trabalhando muito, uma jornada de 14 horas por dia”, comenta Bruno.
Morando em uma cidade chamada Lowell, no Estado de Massachusetts, Bruno comenta que não havia muitas visualizações quando começou a postar vídeos, até o momento em que decidiu gravar sobre a deportação, com uma montagem de foto sua na chamada thumbnail (capa do vídeo), sobre um fundo com dois policiais e Donald Trump apontando.
'Ele acabou repercutindo muito, mais críticas do que elogio… não acreditaram no assunto que eu abordei, mas as notícias estão confirmando a importância da mão de obra aqui', diz Bruno.
Ele relata a dificuldade de ver americanos nos lugares de trabalho, onde segundo Bruno 70% da mão de obra é imigrante, que trabalham em meio aos esforços para se legalizar no País, o que custa tempo e dinheiro e como bem relata o campo-grandense 'quase sempre é negado'.
'Nosso objetivo é conseguir se legalizar para ter uma oportunidade de vida melhor e poder ir ao Brasil quantas vezes for necessário. Caso nosso processo fosse negado com toda certeza iríamos embora do País', indica.
Política de deportação
Em um de seus vídeos, Bruno inclusive comenta que acreditava ser verdade as promessas de campanha de Donald Trump, que iam contra a presença de imigrantes nos Estados Unidos.
'Ficamos temerosos com sobre como seria cumprida essa promessa, porém não imaginamos que pudesse causar esse medo em nós. Mas não nos preocupamos porque sabíamos que estávamos no caminho da legalização... agora não sabemos de mais nada', disse em resposta ao Correio.
Apoiado no corrente processo de legalização, além do fato de não possuir problemas com a Justiça do Brasil ou dos Estados Unidos, apesar de estar “sem problemas” ele confessa a aflição que sente, motivada menos pelo medo da deportação e mais pelo risco de que ele e a esposa se separem do filho caso ambos fossem levados a um centro de imigração.
'Estamos evitando sair de casa juntos e diminuímos nossa jornada de trabalho pela metade', cita Bruno.
Ele comenta que, apesar de Bruno Filho ter nascido nos Estados Unidos, isso de nada afeta na permanência da família em solo norte-americano antes da maioridade legal, sendo esse inclusive o tema de seu mais recente vídeo na plataforma.
Sendo apenas o núcleo duro de sua família habitante nos Estados Unidos, ele complementa dizendo que, diante da atual situação, apesar do objetivo de permanecer, pensa em voltar caso as coisas não se acalmem.
“Ser ilegal em busca de uma oportunidade é uma coisa agora viver se escondendo ou com medo já é outra”, conclui.