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Mato Grosso do Sul passa de exportador a comprador de milho

“É fundamental que os produtores negociem suas safras ainda este ano, aproveitando as oportunidades antes que o cenário se torne mais restritivo”, avalia o analista

| CORREIO DO ESTADO / EVELYN THAMARIS


Mato Grosso do Sul passa de exportador a comprador de milho - Foto: Paulo Ribas

Com a demanda crescente do mercado interno de Mato Grosso do Sul, a significativa quebra na safrinha deve elevar as compras de milho de outros estados. O Estado que costuma exportar sua produção agrícola passa a ter de adquirir o insumo de outras localidades.

Conforme divulgado na edição de ontem do Correio do Estado, dados divulgados pela Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul (Aprosoja-MS) apontam  que a produção da 2ª safra de milho caiu 40,52% em relação ao ano anterior. 

O ciclo 2023/2024 chegou a 8,457 milhões de toneladas ante as 14,220 milhões de toneladas do cereal colhidas  na safra 2022/2023, resultando em uma produção de 5,763 milhões de toneladas a menos. 

Em entrevista ao Correio do Estado o analista da Granos Corretora, Carlos Ronaldo Dávalo, explica que com a redução na produção o cenário é  de cautela, mas também de oportunidades para os produtores. 

 “As indústrias de etanol já estão recorrendo ao milho de outros estados para suprir a necessidade local, o que torna a situação ainda mais desafiadora. A entrada de milho de fora já é uma realidade e deve continuar”, diz Dávalo.

Apesar da expectativa de alta nos preços do milho, o analista enfatiza que a tendência pode ser limitada pela concorrência com estados vizinhos, como Mato Grosso e Goiás, que estão com safras mais robustas.

“O milho tende a subir na balança comercial, mas com a redução acentuada da safra em Mato Grosso do Sul, muitos produtores podem buscar alternativas em outros estados”, alerta o analista.

Ele frisa ainda que o momento para negociação é crucial, tendo em vista que o melhor momento para vender será nos próximos 60 dias. “O produtor precisa estar atento e aproveitar. A virada do ano também é importante, pois grandes demandadores de milho, como o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, iniciarão a produção de milho de verão, aumentando ainda mais a pressão sobre o mercado”, explica o analista.

Em relação à quantidade de milho disponível, Dávalo pontua que o estoque de passagem, que muitos relatórios não consideram, é significativo. “Se o mercado não considerar esses estoques, pode haver surpresas, mas a realidade é que a produção está bem abaixo do necessário para atender à demanda interna, que chegou a 7,7 milhões de toneladas este ano”, comenta.

Com a necessidade de se adaptar a essas condições de mercado, o produtor de milho deve estar atento a essas movimentações e se preparar para a próxima safra, que pode ser marcada por incertezas. 

“É fundamental que os produtores negociem suas safras ainda este ano, aproveitando as oportunidades antes que o cenário se torne mais restritivo”, avalia o analista.

Em resumo, o analista indica que apesar da expectativa de alta, a realidade do mercado de milho em Mato Grosso do Sul exige uma avaliação cuidadosa e uma ação proativa por parte dos produtores. 

“O futuro próximo será crucial para a definição de preços e estratégias comerciais”, conclui Dávalo.

PREJUÍZO

Na quarta-feira a saca de milho com 60 kg era comercializada pelo preço médio de R$ 51,19 ontem. Considerando que 5,763 milhões de toneladas são 96,050 milhões de sacas, o prejuízo estimado é de R$ 4,9 bilhões.

A área produzida de milho atingiu 2,102 milhões de hectares, queda de 10,7% ante os 2,355 milhões de hectares colhidos no ciclo anterior. A produtividade média no ciclo atual foi de 67,05 sacas por hectare, redução de 33,37% (33,59 sacas a menos) em relação ao ano anterior, quando foram colhidas 100,64 sc/ha.

“Mais de 50 cidades de MS produziram abaixo da média. A situação do produtor rural, que já não era das melhores com a primeira safra 2023/2024, agravou-se com a safra de milho. Muitos agricultores solicitaram renegociação das dívidas com os bancos para que pudessem ter fôlego para a primeira safra 2024/2025”, disse o presidente da Aprosoja-MS, Jorge Michelc.

O economista do Sindicato Rural de Campo Grande, Rochedo e Corguinho (SRCG), Staney Barbosa Melo complementa ressaltando que os anos de 2023 e 2024 foram muito ruins para a produção agrícola em Mato Grosso do Sul, pois foram anos de preços baixos para os grãos, que comprimiram muito as margens do produtor rural.

“Já em 2024, além da manutenção de preços baixos, tivemos também uma quebra muito forte da safra aqui no estado, algo que não ocorreu de forma uniforme com outros estados. Isso deixou o produtor rural do estado em uma situação difícil, pois além de não ter os grãos para venda, a recuperação de oferta em outros estados acabou mantendo reprimidos os preços do milho também neste ano”

Para este novo ciclo, o economista alerta que produtor precisará contar com um bom planejamento para mitigar riscos, pois vem de um histórico de prejuízos e, certamente, precisará ter bons resultados nas safras futuras para apenas recuperar o que se perdeu nas últimas duas safras. Assine o Correio do Estado.


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