Residencial com quase 200 apartamentos pode atrapalhar rota de aves em Campo Grande
Prefeitura debate impacto de empreendimento com 192 unidades habitacionais perto do Parque do Prosa
| LUCAS MAMéDIO / CAMPO GRANDE NEWS
E no começo da noite desta segunda-feira (11), uma audiência pública foi realizada para apresentar e discutir o Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) do empreendimento multirresidencial que a CONSVANM Construtora e Incorporadora Ltda. pretende construir no Bairro Veraneio, em Campo Grande.
Uma audiência pública foi realizada em Campo Grande para discutir o impacto ambiental de um empreendimento multirresidencial previsto para a região. A bióloga Cintia Possas, membro do Conselho Consultivo do Parque Estadual do Prosa, expressou preocupação com o impacto na fauna local, especialmente em relação aos corredores migratórios de aves, como o gavião-pega-macaco. Ela argumentou que a construção pode gerar um aumento significativo no tráfego de veículos, levando a riscos de atropelamento de aves e interrupção de corredores ecológicos. Possas sugeriu alternativas para mitigar o impacto, como a redução da altura dos prédios e a reavaliação do projeto para diminuir a quantidade de andares. O estudo de impacto será analisado e poderá passar por ajustes antes de ser encaminhado ao Conselho Municipal de Meio Ambiente e ao Conselho Consultivo do Parque Estadual do Prosa para futuras deliberações.
O projeto prevê a construção de 192 unidades habitacionais no lote 6A, quadra 28, localizado na Avenida Presidente Manoel Ferraz de Campos Salles, entre a Rua Rio Vermelho e Rua Desembargador Leão Neto do Carmo, região próxima ao Parque Estadual do Prosa.
A audiência, convocada pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano (Semadur), contou com a presença de moradores locais, representantes do poder público e de entidades ambientais. O objetivo principal do evento foi avaliar os possíveis impactos ambientais e urbanos que o empreendimento pode gerar, principalmente nas questões relativas ao trânsito, à fauna local e à qualidade de vida dos moradores da região.
A bióloga Cintia Possas, membro do Conselho Consultivo do Parque Estadual do Prosa e residente no bairro Danúbia Azul, levou uma pauta importante relacionado ao impacto na fauna. Cintia expressou sua preocupação com os impactos ambientais que o novo empreendimento pode causar, especialmente em relação aos corredores migratórios de aves na região.
A especialista destacou que a construção de 192 unidades habitacionais, ainda que verticais, vai gerar um aumento significativo no fluxo de veículos na região. Ela alertou para os riscos de atropelamento de animais, uma vez que a área já é frequentada por diversas espécies de aves, como o gavião-pega-macaco, o gavião-pombo e o gavião-de-penacho, que são atraídas pelo Parque Estadual do Prosa e pela vegetação remanescente.
Cintia fez questão de lembrar que essas aves não são apenas importantes para o ecossistema local, mas também têm valor econômico, atraindo turistas internacionais para o estado com o ecoturismo focado na observação de aves. “Essas aves são importantes para a economia local, pois muitos turistas europeus vêm para Campo Grande para observá-las. Se esse habitat for destruído, perderemos uma fonte de renda sustentável e sem impacto ambiental', explicou a bióloga.
Outro ponto levantado pela especialista foi a interrupção de corredores ecológicos fundamentais para a biodiversidade da região. Ela alertou que, ao isolar uma unidade de conservação com a construção de grandes empreendimentos residenciais, pode-se reduzir a variabilidade genética das espécies, prejudicando a reprodução e a adaptação dos animais ao ambiente. “É como se esses animais se vissem presos em uma ilha, sem possibilidade de migração ou de fluxo genético com outros grupos, o que pode levar a um empobrecimento da diversidade biológica da área', completou.
Proposta de adequações - Em sua fala, Cintia Possas propôs alternativas que poderiam mitigar os impactos do empreendimento, como a redução da altura dos prédios e a reavaliação do projeto para diminuir a quantidade de andares, permitindo maior permeabilidade do solo e menor impacto nas aves. “Poderia ser construído um número similar de unidades, mas em edificações mais baixas. Com, por exemplo, quatro andares no máximo. Isso já reduziria bastante o impacto sobre as aves que habitam a região', sugeriu a bióloga.
Ela também mencionou um caso semelhante em que um empreendimento, inicialmente previsto para ser construído em vários andares, foi readequado após discussões com o Conselho Consultivo do Parque do Prosa. “Em outro projeto, após diálogo com o conselho, as construtoras optaram por ajustar o plano e optaram por edificações mais horizontais, tipo sobrados, que geraram menos impacto no ecossistema local', disse Cintia.
A partir de agora, o estudo de impacto será analisado e poderá passar por ajustes, de acordo com as sugestões apresentadas durante a audiência pública. O processo seguirá para a análise da Semadur, que encaminhará as recomendações ao Conselho Municipal de Meio Ambiente (Comam) e ao Conselho Consultivo do Parque Estadual do Prosa para futuras deliberações.