Setor aéreo brasileiro é o quarto maior do mundo em voos nacionais
Apesar do recorde de passageiros em setembro, crescimento do setor é travado por dívidas acumuladas da pandemia
| CORREIO DO ESTADO / JOãO GABRIEL VILALBA
O Brasil se tornou o quarto maior mercado de voos domésticos do mundo em 2024, representando 1,2% do total global. Com o aumento da demanda por voos nacionais, o país subiu uma posição no ranking mundial. Estados Unidos e China lideram com 15% e 11% respectivamente, de acordo com a Iata (Associação Internacional de Transportes Aéreos).
A recuperação do número de passageiros no Brasil segue o mesmo ritmo dos países que lideram o ranking mundial como Estados Unidos, China, Índia e Japão. Em 2024, a demanda por voos domésticos no Brasil superou a média global: enquanto o crescimento mundial foi de 5,6%, o mercado brasileiro avançou 6,6%, segundo a Iata. Até julho, 44 milhões de passageiros foram transportados em voos nacionais.
Segundo o Ministério de Portos e Aeroportos, a aviação comercial brasileira teve o melhor setembro de sua história. Em voos nacionais e internacionais, os aeroportos brasileiros movimentaram quase 10 milhões de turistas, volume 5,7% maior ao total registrado no mesmo período do ano passado. Em operações dentro do país, o indicador cresceu 4,3% no mês, com mais de 7,9 milhões de pessoas transportadas, recorde para período desde 2000, quando a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) passou a divulgar os dados.
O mercado doméstico no Brasil já recuperou quase toda a demanda registrada no mesmo período de 2019 (99%), segundo a Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas). No entanto, as companhias aéreas têm perspectivas limitadas de crescimento, pressionadas por dívidas acumuladas durante a pandemia de Covid-19, quando a receita despencou, mas os custos foram mantidos.
'Superar as dívidas acumuladas durante a pandemia vai levar décadas. As companhias lutam para sobreviver em meio às dívidas, à falta de infraestrutura e às baixas perspectivas de crescimento macroeconômico', afirma Gianfranco Zioni Beting, consultor aeronáutico e cofundador da Azul Linhas Aéreas.
Em 2020, o número de passageiros caiu 54,05% em comparação a 2019, passando de 93,8 milhões para 43,1 milhões. A pandemia foi o choque global de maior impacto negativo no setor da aviação desde a década de 1990. Ocorreu uma queda de 93% do mercado logo após os primeiros meses de 2020.
Apesar da recuperação da demanda, as empresas evitam falar em previsão de preços das passagens para o final deste ano e para 2025. Para especialistas, a variação do preço do dólar e do petróleo são os principais fatores de pressão. O combustível representa a maior despesa para as companhias aéreas, correspondendo a cerca de 36% dos custos, segundo a Abear.
Em nota, as empresas Azul Linhas Aéreas Brasileiras, Gol Linhas Aéreas Inteligentes S.A. e Latam Airlines afirmam que os preços das passagens aéreas são dinâmicos, sazonais e sofrem a interferência de diversos fatores. Entre eles, destacam-se os valores de combustível, câmbio, demanda pela rota, data e destino do voo. Especialistas apontam uma combinação de fatores para explicar o crescimento da demanda por voos domésticos no Brasil. Um dos principais é o aumento do interesse por destinos menos explorados. As viagens para as regiões Norte e Nordeste têm impulsionado essa demanda, com o estado do Pará liderando o crescimento neste ano, com aumento de 17% na oferta de assentos em relação ao ano passado, conforme relatório da empresa de gestão de banco de dados ForwardKeys.
Ceará e Pernambuco estão entre os principais estados com ampliação da capacidade de assentos domésticos, mantendo um crescimento estável em 2024 e com boas expectativas para o ano seguinte.
Para Jeanine Pires, consultora de empresas de turismo e especialista no setor de aviação, o perfil dos passageiros está mudando. 'Para atrair mais clientes, as companhias aéreas oferecem maior flexibilidade em cancelamentos, mudanças e alterações. Essa estratégia busca atender às expectativas dos passageiros, que não desejam ser penalizados por adversidades externas', afirma.
Outro fator decisivo para explicar a recuperação é a infraestrutura. Segundo a Abear, houve um crescimento de 6% na capacidade de aeroportos em relação ao período pré-pandemia.
No entanto, especialistas afirmam que a infraestrutura existente não acompanha o ritmo da demanda crescente por voos domésticos no Brasil, representando um obstáculo para o avanço das companhias.
MERCADO DE AVIAÇÃO NO BRASIL
Ano - Passageiros transportados em voos domésticos no Brasil
2019 - 93,8 milhões
2020 - 43,1 milhões
2021 - 62,2 milhões
2022 - 82 milhões
2023 - 91 milhões
2024 (até junho) - 44,1 milhões
*Fonte: Iata
*Informações da Folhapress