Mato Grosso do Sul sobe no ranking de produção de tilápia e se consolida como referência no setor
O Anuário da Piscicultura 2024, produzido pela Peixe BR, cravou o nome de Mato Grosso do Sul no panteão dos gigantes da produção de peixes
| REDAçãO/ CAARAPó NEWS
Com a mesma tranquilidade das águas de seus tanques, Mato Grosso do Sul deslizou para a elite da piscicultura brasileira. Em menos de uma década, o Estado saltou da obscura 20ª posição para o cobiçado 5º lugar na produção de tilápias no país. Pode parecer pouco para quem não acompanha de perto o universo da criação de peixes, mas no mundo das escamas e das redes de pesca, esse salto é coisa grande.
O Anuário da Piscicultura 2024, produzido pela Peixe BR, cravou o nome de Mato Grosso do Sul no panteão dos gigantes da produção de peixes. Mas por que, afinal, o Estado, tradicionalmente conhecido por suas terras extensas e gado no pasto, decidiu se aventurar nas águas? A resposta está nas oportunidades e incentivos. Nos últimos anos, os produtores sul-mato-grossenses perceberam que, além de boi e soja, os peixes também podiam engordar suas contas bancárias.
Quando o boi abriu espaço para o peixe - Tudo começou lá por 2013, quando Mato Grosso do Sul aparecia, timidamente, entre os Estados produtores de tilápia, aquele peixe branco que virou o queridinho da classe média no churrasco e nas dietas de academia. Naquele ano, MS ocupava um discreto 20º lugar. De lá para cá, o Estado deu um grande mergulho na piscicultura, avançando primeiro para a 14ª posição em 2017, depois para a 10ª em 2022, até chegar, finalmente, ao Top 5 em 2024.
Para quem olha de fora, pode parecer que foi fácil: cria-se uns tanques, joga-se uns peixes lá dentro e, pronto, está feito o produtor de tilápia. Mas, como em toda atividade rural, a piscicultura demanda mais do que boa vontade. Foi preciso investir em tecnologia, aprender a lidar com os desafios do manejo da água, cuidar da qualidade dos peixes, e, claro, profissionalizar a produção.
A coordenadora da Assistência Técnica do Senar/MS, Paula Martins, conhece bem esse processo. "A formação técnica desempenha um papel fundamental no desenvolvimento da piscicultura. É através de técnicos qualificados que o produtor rural adquire conhecimento sobre soluções que otimizam o manejo da água e a qualidade dos peixes, por exemplo", explica. E o resultado disso? Uma produção mais sustentável, lucrativa e, principalmente, competitiva no mercado.
O desafio de criar peixes no meio do Pantanal - Quando se pensa em Mato Grosso do Sul, muita gente imagina vastas planícies e o Pantanal cheio de jacarés, capivaras e aves exóticas. E é verdade, o Pantanal está lá, mas a criação de tilápias acontece em outro canto, nas áreas mais secas e distantes da natureza exuberante e selvagem que costuma aparecer nas propagandas de turismo.
Os maiores municípios produtores, como Selvíria e Aparecida do Taboado, ficam na borda do Pantanal e são verdadeiros redutos de tecnologia aplicada à produção de peixes. Em Selvíria, por exemplo, os piscicultores aprenderam a controlar rigorosamente o volume de água em seus tanques, garantindo que os peixes tenham um ambiente ideal para crescer rápido e saudáveis. E o resultado aparece nos números: no primeiro semestre de 2024, o volume de peixe comercializado nas propriedades assistidas pelo Senar/MS subiu de 21.357 kg para 38.744 kg no segundo trimestre. Um salto considerável, que mostra o impacto da profissionalização.
Mas nem tudo são águas calmas no caminho da piscicultura em Mato Grosso do Sul. Um dos grandes desafios é garantir que o crescimento da produção venha acompanhado de práticas sustentáveis. O impacto ambiental da piscicultura, como o consumo de água e a geração de resíduos, exige cuidados especiais para que o negócio não se torne uma ameaça ao meio ambiente.
Um novo mercado global (e local) de peixes - Para os produtores de Mato Grosso do Sul, o mercado da tilápia não para de crescer. Há quem diga que o peixe, tão popular em filés e assados nos finais de semana, está começando a alcançar os mercados internacionais. O Brasil, afinal, tem o que precisa para se tornar um dos principais exportadores de tilápia do mundo, e Mato Grosso do Sul quer uma fatia desse mercado global.
E quem são os consumidores desse novo “ouro” da piscicultura? No Brasil, são principalmente as grandes cidades. A tilápia é o peixe favorito de muitos supermercados e restaurantes, em parte porque é fácil de criar e tem um sabor suave, que agrada a quase todo mundo. Fora do Brasil, o mercado também é promissor: a tilápia brasileira já é exportada para países como Estados Unidos e China, dois gigantes do consumo mundial.
No entanto, apesar do otimismo, há questões práticas que os piscicultores ainda precisam resolver. Um dos principais gargalos é a infraestrutura de transporte. Criar peixes no meio do Pantanal é só metade do trabalho; a outra metade é fazer esses peixes chegarem fresquinhos às mesas de São Paulo, Nova York ou Pequim. E aí entram questões como estradas, logística e o desafio de manter os peixes em boas condições durante o transporte.
O futuro da tilápia no Brasil - Olhando para o futuro, os piscicultores de Mato Grosso do Sul têm grandes planos. Eles sabem que, para continuar crescendo, precisam não só melhorar a produção, mas também aumentar sua capacidade de se adaptar às exigências do mercado global, que cobra cada vez mais responsabilidade ambiental. E é aí que a piscicultura pode fazer a diferença.
No horizonte, vislumbra-se um Mato Grosso do Sul cada vez mais reconhecido pela produção de peixes de qualidade, competitivos no mercado internacional e sustentáveis em seu processo de criação. A tilápia já virou um negócio sério, e o futuro, ao que tudo indica, será ainda mais promissor.